quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Lendo a Arte: Davi, a escultura icônica de Michelangelo

Escultura de Davi, exemplo de força e beleza (Cortesia do Artrenewal.org)
Escultura de Davi, exemplo de força e beleza (Cortesia do Artrenewal.org)
A estátua de Michelangelo, Davi, é um ícone ocidental de inquestionável magnificência.
Esculpida à mão a partir de mármore, a estátua de cinco metros e dezessete centímetros claramente nasceu da mão de um mestre. Formas idealizadas são caracterizadas por uma grandiosa fusão de elegância e força. A obra de arte irradia uma aura de eternidade, uma qualidade superior atemporal que talvez somente Rafael conseguisse incorporar de forma similar nas suas pinturas.
Contudo a composição não poderia ser mais simples: um nu masculino em contraposição, a cabeça virada de lado e seu único adereço, uma faixa em redor das costas, em grande parte fora de vista. No entanto, esta simplicidade não impediu os seus criadores de expressar ambos: conteúdo e emoção.
Criadores? Sim de fato. A estátua foi originalmente encomendada ao escultor Agostino di Duccio, anos antes de Michelangelo nascer. Por razões desconhecidas, Agostino abandonou o projeto quando estava sensivelmente a meio caminho de completar a forma das pernas, pés, tronco e alguns drapeados.
Dez anos mais tarde, Antonio Rosselino trabalhou em Davi brevemente, e após mais essa intervenção o trabalho permaneceu parado por mais 25 anos até que o jovem Michelangelo de apenas 26 anos convenceu as pessoas que encomendaram a peça de que ele era o homem ideal para terminar o trabalho. Trabalhou na peça mais de 2 anos, por vezes durante a noite, utilizando uma grande vela montada no seu chapéu para ter luz.
A história de Davi
Para reiterar a historia Bíblica de Davi, o jovem pastor que conquistou Golias, o guerreiro filisteu gigante, apenas com seu arpão e uma pedra, corta a cabeça do gigante e mais tarde torna-se o lendário rei Hebreu.
Era comum na segunda parte do século XV retratar Davi com a cabeça de Golias, mas aqui uma abordagem mais diplomática é usada para expressar o tema, um Davi solitário vislumbra o horizonte distante, o seu sobrolho franzido, avalia a força do seu oponente instantes antes da luta.
A sua expressão tensa contrasta fortemente com a sua pose relaxada. Ele está alerta, e ao mesmo tempo relaxado; sem medo, mas não gabarola. As suas pupilas são em forma de coração. Tudo o que ele vê é o alcance do seu coração, a sua postura gloriosa prevê já a vitória.
As imperfeições da estátua
Existem algumas imperfeições anatômicas na estátua que deixaram perplexos, ao longo dos séculos, aqueles que a apreciaram. Estas ‘falhas’ são difíceis de explicar, como simples erros, dado que Michelangelo era um profundo conhecedor da anatomia humana.
A cabeça de Davi demasiado grande e o seu torso ligeiramente aumentado são geralmente assumidos como uma escolha deliberada, para corrigir o volume diminuído da parte superior, que é percebida pela perspectiva do observador. A estátua tinha originalmente como destino o telhado da catedral de Florença.
É uma teoria que realmente faz sentido: nessa altura, a perspectiva não tinha segredos para os artistas italianos. Mas isso não explica a mão direita anormalmente grande.
Podíamos supor que o tamanho da mão direita tinha como propósito servir para equilibrar a atenção do observador, mas isto é pouco provável, pois a definição exagerada dos mamilos já é suficiente para equilibrar a nudez pélvica. Portanto qual a razão deste ‘erro’?
Michelangelo compreendeu a importância de fazer com que este rapaz pastor parecesse capaz de derrubar um gigante – e em mais do que um contexto. Junto com a motivação religiosa, o tema do desprivilegiado que se torna vencedor também é importante na conceção da obra
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